sábado, 16 de julho de 2011

Linha da Beira Baixa

Por Jorge Lopes e Francisco Barreto
2011/07/17 00:00

A TVC realizou, no passado dias 25 de Junho, uma viagem até à cidade da Covilhã, e decidimos para isso apanhar o comboio Intercidades 541, com partida às 9:31 do Entroncamento, e proveniência da capital do país, estação de Lisboa-Santa Apolónia.

Troço Entroncamento-Castelo Branco

Uma viagem entre a cidade do Entroncamento e a cidade da Covilhã custa 12 euros na classe mais inferior, e tem a duração de aproximadamente três horas. Mas essa realidade está prestes a mudar, conforme iremos ver a seguir.

À tabela, o comboio parte da principal cidade ferroviária do Entroncamento. Começa a viagem. A composição é a habitual: locomotiva de série 5600, mais precisamente a 5613, e quatro carruagens Sorefame modernizadas. Vai com uma carruagem mais do que o habitual. O operador de revisão e venda, denominado habitualmente por revisor, informa que é devido à Festa da Cereja no Fundão. A bordo ouvem-se por isso música popular português pela voz dos grupos animados que viajam na nossa carruagem.


A Linha da Beira Baixa, na primeira metade da viagem, tem vista para o Rio Tejo, mas nem sempre do mesmo lado. Até Praias do Ribatejo, o Tejo vai à nossa direita, e mostra-nos o belíssimo Castelo de Almourol, a belíssima localidade de Arripiado, e toda a sua restante beleza natural. Troca de margem em Praias do Ribatejo, para a esquerda, e a beleza continua, até que, nas Comportas de Abrantes, se separa da Linha e nos imobilizamos na estação de Abrantes, a primeira paragem.


Como a Linha da Beira Baixa é toda ela via única, esperamos aqui cerca de 5 minutos pelo Intercidades 540 que circula em sentido oposto, em direcção a Lisboa. O cruzamento deveria ter sido em Santa Margarida, mais atrás, mas devido a atraso do comboio em sentido contrário, será aqui. Acabamos por partir na mesma à tabela, pois o tempo que ganhamos do cruzamento que não ocorreu anteriormente, perdemos agora.

Seguimos viagem, atravessamos pela segunda vez o rio, novamente trazendo o Tejo para a nossa direita. Aqui começa o grande problema actual da Linha da Beira Baixa, os afrouxamentos, e começa a sua maior virtude, a paisagem de encantar. A verdade é que os afrouxamentos, mais de uma dúzia, fazem o comboio seguir a 30km/h grande parte do percurso. A locomotiva, apta a 200km/h, vai assim a deslizar muito suavemente, pelas velhas travessas de madeira, em direcção à próxima paragem, Rodão. Pelo caminho, altura para observar o bonito castelo de Belver, os pescadores junto ao rio, as margens do Tejo... Ou, como acontece na carruagem, altura para reforçar o estômago.


A estação do Rodão deveria receber-nos pelas 10:50. Com 12 minutos de atraso, pelas 11:02 o nosso comboio para finalmente nesta bela localidade e bastantes passageiros saem aqui. Tempo para mais um cruzamento, desta vez com um comboio Regional para o Entroncamento, que curiosamente e por ser sábado, é realizado com material diesel, apesar de todo o seu traçado ser eléctrico. Também ele irá partir, por nossa causa, com 12 minutos de atraso, mas visto ser realizado com material diesel, mais lento, deverá atingir o destino com um atraso largamente superior.


Retomamos viagem. Uma bela paisagem se avista agora, sobre todo o vale do Tejo, e finalmente despedimo-nos dele, até ao regresso. Ele irá agora em direcção à Espanha, e nós em direcção à cidade da Serra da Estrela, a Covilhã.


Após algumas pontes, a maioria bem altas, e mais uma dúzia de quilómetros largos, colocamo-nos na cidade de Castelo Branco, onde curiosamente até chegamos com menos atraso, apenas 10 minutos. Aqui é onde ocorre a troca de locomotiva, devido ao facto da catenária ainda não ter entrado em funcionamento. Aqui reside o motivo pelo qual no futuro a viagem poderá ser mais rápida: visto que passarão a circular aqui comboios mais rápidos, eléctricos, e visto que todo o traçado ficará electrificado, deixará de ser necessário trocar de locomotiva a meio da viagem, onde a catenária termina. Assim, uma redução de 15 minutos no tempo de viagem será esperada. É apenas ameaçada pelos afrouxamentos anteriores, para os quais o horário não está preparado, e que poderão transformar na verdade esta redução, numa miragem.


A locomotiva que irá render hoje a 5613 será a 1935, da série 1930 da CP. Em pouco mais de 6 minutos, a troca de locomotiva é feita. Contudo, e como ainda se procedem a alguns procedimentos de segurança na locomotiva, partimos com o mesmo atraso. Aproximadamente 10 minutos. Seguimos novamente viagem, próxima paragem: Fundão.

Troço Castelo Branco - Covilhã

A paisagem, no Verão, tem praticamente um só tom, o amarelo. A verdade é que toda a paisagem fica seca por esta altura do ano, chove menos, e durante o dia vive-se um calor tórrido. Serras e altas elevações, aparecerão mais à frente, a partir de Castelo Novo.

Uma curiosidade acerca deste troço é a quantidade de localidades (e paragens) começadas pelas letras AL, um prefixo de origem árabe. Isto porque esta região era inicialmente ocupada pelos muçulmanos, e assim localidades como Alcains, Alpedrinha, Alcaide e Alcaria, são companhia da Linha da Beira Baixa neste troço. E qual delas a mais bonita.

Após passarmos o túnel de Vale de Prazeres, iniciamos a descida até ao Fundão. A nossa chegada ao Fundão é feita com 12 minutos de atraso. Atrasamos, em parte, devido às obras que estão a decorrer ao longo da linha, obras essas que se espera estarem concluídas em breve. É aqui que saem muitos dos passageiros que continuaram viagem de Castelo Branco, muitos deles turistas de visita às Cerejas do Fundão.

Finalmente, e após passarmos a ribeira da Meimoa e o rio Zêzere, chegamos finalmente à estação da Covilhã, pelas 12:37, com 11 minutos de atraso. A temperatura é insuportável, agora que estamos numa das bases da encosta da Serra da Estrela, a mais alta do país, e só mesmo a fresca da estação poderá salvar os passageiros da temperatura que se faz sentir, que visivelmente já passou os 30º à algum tempo. Uma vez imobilizado o Intercidades, a locomotiva manobra pela estação e vem acoplar ao lado contrário das carruagens. Está pronto para realizar o Intercidades de volta a Lisboa. Nós, ficamos por cá.

2 comentários:

  1. Gostei do que li, pois a descrição está feita da melhor forma possivel. Como conheço largamente essa linha... está feita a sua apresentação, não a passos largos, mas a troco miudinho. Parabéns.

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